domingo, 2 de novembro de 2008

Um beijo


Jantar, recordou-se. Era apenas jantar.
– Está bem, eu vou – disse ela.
- Ainda bem – com uma mão ainda a agarrar na dela, ele agarrou-lhe na nuca e aproximou-a de si. Já estava a ficar nervosa, quando se lembrou de levar uma mão em protesto ao seu peito.
- Só te vou beijar – murmurou
Não havia “só” nenhum naquilo. Os olhos dele permaneciam abertos, alerta, vigorosos e postos nos dela enquanto a sua boca descia. Foram a última coisa que ela viu, aquele azul vivo, impressionante, antes de ficar cega, surda e muda.
No início, pouco mais foi do que um vestígio de um toque, um leve roçar de boca na boca. Ele estava a segurá-la como se fossem deslizar numa dança a qualquer instante. Ela achou que era capaz de balançar, de tão suave e doce que era aquele primeiro encontro de lábios.
Depois deixaram os dela, surpreendendo-lhe a saída de um suspiro à medida que ela retirava a sua boca numa viagem lenta e luxuriosa do seu rosto. A exploração silenciosa – as suas bochechas, as têmporas, as pestanas – enfraqueceu-lhe os joelhos. O tremor teve início aí e ascendeu, de maneira que ela estava sem fôlego quando a boca dele cobriu a sua uma segunda vez.
Agora de forma mais profunda, mais lenta. Os lábios dela separaram-se, e as boas-vindas ecoaram na sua garganta. A sua mão deslizou pelo ombro dele acima, prendeu-o e depois ficou frouxa.
Ela era tudo o que ele quisera. Tê-la assim nos braços, sentir o seu tremor com a mesma necessidade que o abalava por dentro era mais que glorioso. A sua boca parecia concebida para se combinar com a dele, e os sabres que ele lá encontrou eram obscuros, misteriosos e maduros.
Conseguia perceber como iria ser, sentir como iria ser, deitar-se na erva quente com ela, prendê-la debaixo dele, corpo com corpo e carne com carne. Como ela se iria mover debaixo dele e contra ele, desejosa, ansiosa e fluida. E, por fim, finalmente por fim, enterrar-se dentro dela.
Mas desta vez a sua boca era o suficiente. Deixou-se demorar e saborear e possuir, afastando-se suavemente e com a promessa de mais.
(Nora Roberts)

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